MILAGRE
(Pedro Ayres Magalhães / Rodrigo Leão)

É grande o silêncio
aguardo o milagre
chegas amor finalmente
o meu amor, mesmo tarde
e vou livremente,
contigo ao meu lado
tenho o meu mundo contente
neste sonhar acordado
- onde está a tua voz, quero ouvir a tua voz...
- onde está a tua voz, quero ouvir a tua voz...
o desejo pretende,
louvar a saudade,
a tua voz ausente,
e eu estar contigo é milagre

ALGUÉM CANTANDO
(Caetano Veloso)

Alguém cantando longe daqui
Alguém cantando ao longe, longe
Alguém cantando muito
Alguém cantando bem
Alguém cantando é bom de se ouvir
Alguém cantando alguma canção
A voz de alguém nessa imensidão
A voz de alguém que canta
A voz de um certo alguém
A voz de alguém quando vem do coração
De quem mantém toda a pureza
Da natureza
Onde não há pecado nem perdão

A SÍLABA | TREM TROLE E TRILHO
(Zeca Baleiro - Domínio Popular)

Se a sílaba era o álibi
Lá bailava a bala livre

Ba na aba sibilava o silvo
Se lá a sílaba ba
Nada soava súbito
(sob o lábio)

A sílaba si burilava va
Bulinava lá nave vê
A sílaba bá
Entra a saliva cá
E a úvula lá

Dois trilho dois trole dois trem
Dois trem dois trole dois trilho
E não é trilho não é trole não é trem
Não é trem nem é trole nem é trem

MARICOTINHA | SAMBAS DE RODA
(Dorival Caymmi - Domínio Público)

Se fizer bom tempo amanhã
Se fizer bom tempo amanhã
Eu vou!...
Mas se por exemplo chover
Mas se por exemplo chover
Não vou!...
Diga a Maricotinha
Que eu mandei dizer
Que eu não tô
Não tô!
Não vou!
Não tô!
Não vou!
Se fizer bom tempo amanhã
Se fizer bom tempo amanhã
Eu vou!...
Mas se por exemplo chover
Mas se por exemplo chover
Não vou!...
Uma chuvinha, redinha
Cotinha
Aí, piorou!
Nem tô!
Nem vou!
Nem tô!
Nem vou!

ô menina, ô menina
Que menina de beleza
ô menina, ô menina
Que menina de grandeza

Dona da casa eu cheguei agora
Eu quero falar com Senhora
Eu quero falar com a língua ligeira
Peguei na roseira
Tirei uma rosa
E dei ao meu amor pra cheirar

Sou eu Santo Amaro
Eu vou é conversar
Mas eu vou é conversar
Eu vou é conversar

Iáiá
Iáiá Deus lhe deu boa noite Iáiá
Iáiá
Boa noite Deus deu Iáiá

AVE MARIA
(Franz Schubert)

Ave Maria Gratia plena
Maria Gratia plena
Maria Gratia plena
Ave, ave dominus
Dominus tecum
Benedicta tu in mulieribus
Et benedictus
Et benedictus fructus ventris
Ventris tuae Jesus
Ave Maria
Ave Maria Mater Dei
Ora pro nobis peccatoribus
Ora, ora pro nobis
Ora ora pro nobis peccatoribus
Nunc et in hora mortis
In hora mortis nostrae
In hora mortis, mortis nostrae
In hora mortis nostrae
Ave Maria

OUTRA NOITE (Nacht Und Traume)
(Franz Schubert / Matthaus von Colin / Versão: Arthur Nestrovski)

Sonhadoramente a noite
Vem caindo na cidade
Como a luz da lua bate
Sobre o coração de toda gente aqui

Quanta calma, quanta paz
Escuta a calma, escuta a paz
Pede ao amanhecer
Logo, logo uma outra noite
Ah, logo, logo, mais um sonho
Para o coração de toda gente aqui

Heil'ge Nacht, du sinkest nieder;
Nieder wallen auch die Traume
Wie dein Mondlicht durch die Raume,
Durch der Menschen stille Brust.

Die belauschen sie mit Lust; [bis]
Rufen, wenn der Tag erwacht:
Kehre wieder, heil'ge Nacht!
Holde Traume, kehret wieder! [bis]

CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS | PISEI NA TERRA DE CABOCLO
(Terecô da Tenda São José - Tambor de Mina da Casa Fanti)

Caboclo das Sete Encruzilhadas
Santo Antônio ele é
Amarrador de feiticeiro
No cordão da sua fé

Pisei na terra de caboclo
Eu abalei o Juremá
Foi Itanajé ou então Abioncar

YO PARANÃ | SAUDAÇÃO A OXÓSSI
(Canto Indígena - Domínio público)

Yo paranã
Yo paranã uabe
Yo paranã

Agaosi Ieribô akúerã?
Osionilé Agaosi Ieribô akúerã

PARA NÃO CONTRARIAR VOCÊ | MATRIZ OU FILIAL
(Paulinho da Viola - Luiz Cardim)

Quem sou eu
Pra dizer que você fica mais bonita
Desse jeito ou daquele, quem sou e
Quem sou eu
Pra falar mal do seu gosto
Da pintura no seu rosto
Quem sou eu, não sou ninguém
Cada um trata de si
Seus olhos parecem dizer
Muito bem
Eu prefiro não falar
Pra não contrariar você
Fico no meu samba
Se quiser, pode ficar
Vou lá na Portela
Mesmo que você não vá
Não darei ouvidos
Se você me provocar
MAs aceito um beijo
SE você quiser me dar

Quem sou eu
Pra ter direitos exclusivos
Sobre ela
Se eu não posso sustentar
Os sonhos dela
Se nada tenho
E cada um vale o que tem
Quem sou eu
Pra sufocar a solidão da sua boca
Que hoje diz que é matriz e quase louca
Quando brigamos diz que é a filial
Afinal
Se amar demais passou a ser o meu defeito
É bem possível que eu não tenha mais direito
De ser matriz por ter somente amor pra dar
Afinal
O que ela pensa conseguir me desprezando
Se sua sina
Sempre é voltar chorando
Arrependida me pedindo pra ficar

ROSA DE HIROSHIMA | A BOMBA ATÔMICA
(Gerson Conrad / Vinícius de Moraes - Vinícius de Moraes)

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa, sem nada

I
Dos céus descendo
Meu Deus eu vejo
De paraquedas?
Uma coisa branca
Como uma forma
De estatuária
Talvez a forma
Do homem primitivo
A costela branca!
Talvez um seio
Despregado à lua
Talvez o anjo
Tutelar cadente
Talvez a Vênus
Nua, de clâmide
Talvez a inversa
Branca pirâmide
Do pensamento
(...)
É a BOMBA ATÔMICA.
(...)
Quisera tanto
Por um momento
Tê-la em meus braços
A coma ao vento
Descendo nua
Pelos espaços
Descendo branca
(...)
Como um espasmo
(...)
Do longo sêmen
Da Via Láctea
Deusa impoluta
O sexo abrupto
Cubo de prata
Mulher ao cubo
(...)
Carne tão rija
De hormônios vivos
(...)
Que o simples toque
Pode rompê-la
Em cada átomo
Numa explosão
Milhões de vezes
Maior que a força
Contida no ato
Ou que a energia
Que expulsa o feto
Na hora do parto.

II
A bomba atômica é triste
Coisa mais triste não há
Quando cai, cai sem vontade
Vem caindo devagar
Tão devagar vem caindo
Que dá tempo a um passarinho
De pousar nela e voar...
Coitada da bomba atômica
Que não gosta de matar!
(...)
Pomba atônita da paz!
(...)

TOM DE VOZ
(Cesar Mendes / Quito Ribeiro)

Olhe a gente tão perto
olhe o quarto
olhe o quanto passou
nós sabemos que um tanto
de cada é do outro
Caminho assim
não volta atrpas
Meu barco navega
onde eu vou você vai
na onda
Seu tom de voz
me deixa em paz
O olhar distraído esperando
é travesso e me atrai
a risada é tão franca
que eu choro na cama
Lembrar de ti
me leva ao cais
Eu busco na praia
o presente que você
mandou
Seu tom de voz
me deixa em paz
O nosso amor
foi bom demais