TECNOMACUMBA - por Caetano Veloso
Faz algum tempo que venho ouvindo com curiosidade e agrado uma voz de mulher que impressiona pela firmeza, pela limpeza do som, pela naturalidade da afinação. É uma voz que ouvi primeiro casualmente no rádio do carro e que sempre me fez parar para atentar e me perguntar: quem é essa cantora que tem a emissão lisa (sem vibratos) mais impressionante que ouvi em muito tempo? De quem é essa voz encorpada e delicada, de quem são esses glissandos seguros e de grande efeito experimental sem sombra de vulgaridade? Aprendi o nome de Rita Benneditto ao encontrar as respostas a essas perguntas. Agora, em parte num movimento de buscar usos significativos para suas invenções vocais, Rita desenvolveu esse projeto a que deu o nome de Tecnomacumba. Os cantos e toques das religiões afro-brasileiras e sua sintonia com os ritmos desenvolvidos no uso de instrumentos eletrônicos. O resultado é rico, honesto e sugestivo.
O disco é um produto de nível profissional impecável, uma prova de que o Brasil anda com as próprias pernas. As combinações rítmicas e timbrísticas das programações eletrônicas com os instrumentos tocados por gente são equilibradas. O repertório é uma antologia de composições sobre o tema das religiões africanas no Brasil - sempre emolduradas por cantos saídos diretamente dessas práticas religiosas. Às vezes somos levados a nos perguntar coisas como, por exemplo, se o canto sobre Tempo ecoa as lavadeiras de Monsueto ou se o samba de Monsueto é que foi tirado daquele canto. Assim, há um rendado de motivos, uma rede de lembranças e referências que dão uma textura interna especial ao trabalho. O resultado fica mais para um pop elegante, em que uma boa banda de acompanhamento é temperada por sons tecno, do que para um mergulho radical no mundo dos batuques e da eletrônica. Mais uma vez, o que ressalta é a voz de Rita, sua segurança simpática (isso não é fácil nem freqüente), seu timbre cheio, seus ornamentos chiques porque personalíssimos, sua nobreza maranhense.
Esse disco tem um futuro intrigante e pode vir a dizer mais do que parece agora. Vamos ouvir e esperar.
Release - por Jean Wyllys
Após 20 anos de carreira, Rita Benneditto lança seu primeiro dvd, em que conta com a participação de Maria Bethânia e Caetano Veloso
Só agora, depois de uma carreira de 20 anos que inclui muitos shows, quatro discos e participações em coletâneas e em projetos especiais, a cantora e compositora Rita Benneditto lança seu primeiro DVD: Tecnomacumba – a tempo e ao vivo chega à cena musical graças a uma parceria entre Manaxica Produções Artísticas, Canal Brasil e Petrobrás, com distribuição da gravadora Biscoito Fino, e conta com a participação luxuosa de Maria Bethânia em uma das faixas e um texto de apresentação assinado por Caetano Veloso. Tecnomacumba – a tempo e ao vivo é o registro do bem-sucedido show homônimo que virou CD em 2006 e que, nos seis anos em que circulou pelo Brasil, foi visto por mais de duzentas mil pessoas. É fato raro, no Brasil, um show de música ficar em cartaz por seis anos.
“O tempo transformou Tecnomacumba num sucesso de público e, ao mesmo tempo, este show e o disco homônimo que lancei em 2006 aumentaram a minha popularidade em todo o Brasil. O sucesso de Tecnomacumba é produto de meu tempo de trabalho, perseverança e paciência. O DVD chega, portanto, a tempo de coroar a vitória de um projeto para o qual nem todas as portas se abriram. Não por acaso, eu o batizei de ‘A Tempo e ao vivo’”, explica Rita Benneditto. “Sendo este trabalho tão importante em minha carreira, eu não poderia ter escolhido outro show para servir de base para meu primeiro DVD”, acrescenta.
Em seu texto de apresentação, Caetano Veloso também ressalta o papel do tempo no sucesso de Tecnomacumba, além de se derramar em elogios à voz e ao talento de Rita Benneditto. Para ele, a compreensão total da importância deste trabalhopara a história da música popular brasileira e para a cultura de herança africana só vai ocorrer daqui a alguns anos. “Por enquanto, disco e DVD vão seduzir pela qualidade musical, pela mistura de ritmos e gêneros musicais, pelo repertório bem selecionado e pela bela voz de Rita Benneditto”, discorre o compositor baiano.
Sobre ter demorado tanto tempo para lançar o primeiro DVD de sua carreira, a cantora explica que não é de fazer algo apenas porque está na moda ou porque o mercado recomenda. “Eu só faço aquilo que eu quero e em que acredito. Até então, não achava significativo para minha carreira lançar um DVD. Não queria lançar um DVD só por lançar. Queria que o DVD correspondesse a uma vontade minha de me expor de outra maneira que não apenas pela voz e à vontade de meu público de ter um registro audiovisual maior que o videoclipe. Essas vontades chegaram”, detalha.
O DVD Tecnomacumba – A Tempo e ao vivo émais umfruto da intervenção cultural criada por Rita Benneditto há seis anos para nomear a fusão entre batuques dos terreiros e beats eletrônicos e que despertou paixão em diferentes públicos. Caetano não é o único a ressaltar a importância cultural dessa iniciativa e o talento de sua criadora. Alcione, Maria Bethânia e Ney Matogrosso aparecem nos extras do DVD em depoimentos também elogiosos. Ney conta que ficou tão impressionado com a performance de Rita em Cavaleiros de Aruanda (Tony Osanah), que decidiu incluir a música no repertório de seu show Inclassificáveis. A participação de Bethânia vai além do depoimento nos extras. A diva baiana divide com Rita Benneditto os vocais de Iansã (Caetano Veloso), numa interpretação emocionante e memorável.
Os depoimentos dos extras - que incluem também o making-off das gravações - representam a lista de artistas que, ao longo desses seis anos, e a convite de Rita Benneditto, participaram dos showspor acreditar no projeto, entre eles Beth Carvalho, Sandra de Sá, Margareth Menezes, Mart’nália, Davi Morais e Nicolas Krassik.
Rita Benneditto busca mostrar que o alicerce da MPB e da eletrônica é a musicalidade ancestral dos terreiros de candomblé, centros de umbanda, batuques e xangôs espalhados pelo país. Por isso, Tecnomacumba – a tempo e ao vivo prima por fusões sutis ou diretas de MPB, sons eletrônicos e pontos e rezas das religiões afro-brasileiras, num repertório que inclui, além das já citadas, Domingo 23 (Jorge Benjor), Babá Alapalá (Gilberto Gil), Oração do Tempo (Caetano Veloso), Coisa da Antiga (Wilson Moreira e Ney Lopes), É D’ Oxum (Gerônimo e Vevé Calazans), Rainha do Mar (Dorival Caymmi) e Cocada (Antonio Vieira), entre outras pérolas. As novidades em relação ao repertório do disco de 2006 são as releituras de Moça Bonita (Jair Amorim e Evaldo Gouveia) e de Xangô, O Vencedor, sucesso popular de Ruy Mauriti que acabou caindo no esquecimento. A direção musical ficou a cargo de Israel Dantas, guitarrista da Cavaleiros de Aruanda, banda que acompanha Rita Benneditto e da qual também fazem parte os músicos Alexandre Katatu (baixista), Lúcio Vieira (baterista e programador eletrônico), Pedro Milman (tecladista) e Paulo He-Man (percussionista).
A direção geral do dvd é de Wagner Vieira. O show conta com cenário e figurino ecológicos concebidos pelo cenógrafo Cássio Brasil. Cortinas de jornais reciclados fazem referência à decoração dos barracões de terreiros e centros de umbanda e, ao mesmo tempo, à tecnologia que traduziu a oralidade da cultura afro-brasileira em palavras impressas, permitindo a sua preservação e circulação. “Por isso é que, hoje, toda macumba é tecnomacumba”, conclui Rita Benneditto.
Mais que um novo DVD na praça, Tecnomacumba – a tempo e ao vivo é uma verdadeira pérola aos povos.
"Lançada originalmente em 1972 por Jorge Benjor, quando ainda se chamava Jorge Ben, Domingo 23 foi um dos hinos de sua fase mística e alquímica. A excelente Rita Benneditto renovou a música em seu Tecnomacumaba - a tempo e ao vivo dentro do seu repertório afro-brasileiro, com ajuda de uma banda muito boa e empolgou o público com sua homenagem a São Jorge e Ogum."
Nelson Motta - Sintonia Fina
"O impactante manifesto de brasilidade da cantora e compositora maranhense, que alcançou o grande feito de ficar com um único espetáculo em cartaz por mais de seis anos, já está disponível no mercado, em CD e DVD. Mais que um magnífico registro de um espetáculo que marcou época e com repertório antológico (na verdade um grande musical), “Tecnomacumba - Ao Tempo e ao Vivo”, em suas duas versões, é um importante documento histórico, um resgate das origens da música afro-brasileira."
Jáder Rezende - Hoje em dia